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7.000.000.000 Quantos mais suportará a Terra?

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População mundial continua a crescer, porém mais lentamente, sendo cada vez mais idosa e mais urbana. A sociedade vai mudar. Por Ricardo Garcia

a O demógrafo norte-americano Joel Cohen, chefe do Laboratório de Populações da Universidade Rockfeller, costuma dizer que todas as pessoas vivas nascidas até 1965 testemunharam um evento extraordinário: a população mundial mais do que duplicou. Há meio século, cifrava-se em cerca de 3,3 mil milhões de habitantes. Hoje, aproxima-se dos sete mil milhões, marca que será alcançada ainda este ano ou em meados de 2012, segundo diferentes estimativas. "Isto nunca aconteceu antes e é improvável que aconteça novamente", escreveu o investigador, num artigo recente.

O que Cohen quer dizer é que o número de pessoas sobre o planeta não voltará a crescer tão depressa como até agora. A explosão demográfica de que tanto se fala está a amainar. Já passámos pelos picos máximos de incremento relativo, em percentagem anual, e de crescimento absoluto, em número de pessoas adicionadas à Terra. Estes indicadores, assim como o número de filhos por mulher, têm vindo a cair.

Mais lentamente, a população continua, ainda assim, a subir. E o que se espera não deixa de assustar. Em 2050, segundo o cenário médio da Divisão de População da ONU, seremos mais de nove mil milhões. Os novos habitantes viverão, quase todos, nas cidades dos países em desenvolvimento e aspirarão a um estilo de vida próximo do que existe hoje nos países ricos, e que está para além do que a Terra pode sustentar indefinidamente.

Pergunta sem resposta

Qual é afinal o limite do planeta? Num livro dedicado ao tema, Joel Cohen reúne quatro séculos de estimativas, que vão desde mil milhões até a um bilião de pessoas. A mais antiga é do holandês Anton van Leeuwenhoek, o "pai" do microscópio, que em 1679 calculou, com base na densidade populacional da Holanda e no que seria a superfície não habitada da Terra, que nela não caberiam mais do que 13,4 mil milhões de pessoas.

O mesmo raciocínio hoje daria um resultado diferente. Se os sete mil milhões de habitantes do globo fossem reunidos num único espaço, com um metro quadrado para cada pessoa, ocupariam uma área equivalente à do distrito de Évora.

Fórmula complexa

O número de pessoas sobre a Terra é apenas uma componente de uma fórmula mais complexa. "Não é esse o elemento fundamental da equação", afirma a demógrafa Maria João Valente Rosa, da Universidade Nova de Lisboa e directora do projecto Pordata-Base de Dados de Portugal Contemporâneo. "O problema é ao nível dos estilos de vida e dos hábitos de consumo", completa.

Estimar o limite populacional da Terra implica pensar que tipo de mundo é que queremos agora e no futuro - o que pretendemos comer, de que objectos necessitamos, que tipo de mobilidade, o que nos diverte, o que nos preocupa. "Não se pode dizer que haja uma estimativa científica para um tamanho sustentável da população", conclui Joel Cohen.

Mesmo sem respostas definitivas, a organização não-governamental britânica Optimum Population Trust lançou, há dois anos, uma campanha sugerindo aos casais para não terem mais de dois filhos.

"É uma gigantesca aldrabice", reage Fernando Ribeiro e Castro, presidente da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, que tem cerca de dez mil sócios, com uma média de 4,2 filhos por casal. "Não estou a dizer que a Terra não esteja em perigo, mas não é por causa da população."

O impacto populacional sobre os recursos pode ser maleável. Mas outras tendências demográficas não. O envelhecimento é uma delas. Actualmente, a população mundial está dividida ao meio entre quem tem mais e menos de 28 anos. Em 2050, a idade mediana será de 38 anos, segundo a mais recente avaliação da ONU. Em 27 países, metade dos seus habitantes estará então acima dos 50 anos.

O envelhecimento, diz a ONU, "é um processo sem precedentes na história da humanidade", que promete alterar radicalmente a sociedade, e não só nos domínios mais óbvios, como o da segurança social. Um estudo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais - uma organização norte-americana - aponta diversas consequências geopolíticas, como a perda de influência internacional de muitas nações desenvolvidas, fruto de uma população menor e mais idosa no futuro. O estudo prevê um risco de maior instabilidade em países de população mais jovem e aponta os anos 2020 como "a década de máximo perigo geopolítico".

Reacção lenta

Segundo Maria João Valente Rosa, a sociedade está a reagir lentamente a isto. "Continuamos organizados da mesma maneira", afirma. "O envelhecimento não é uma doença contagiosa. É uma oportunidade que pode ser bem ou mal aproveitada." Para isto, será preciso adaptar o modelo social actual, aumentando, por exemplo, as oportunidades de formação e distribuindo melhor o trabalho ao longo de um período mais extenso da vida.

https://www.publico.pt/2011/04/22/jornal/7000000000-quantos-mais-suportara-a-terra-21890443

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