Investidor contabiliza perdas. Eike, os lucros
A derrocada financeira do grupo EBX, de Eike Batista, após meses de crise de desconfiança dos investidores, deixou pesados estragos na bolsa e no patrimônio de milhares de investidores que acreditaram nos planos mirabolantes do empresário. Mas o próprio controlador, cuja fortuna chegou a ser avaliada em US$ 34,5 bilhões no ano passado, pode ter saído no lucro depois de um derretimento superior a 90% no preço das ações. Com patrimônio reduzido, agora, para US$ 2,9 bilhões, Eike possui ações que ainda pode vender e a chance de fechar negócios, mantendo uma posição minoritária em suas companhias.
A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) fechou ontem em alta de 1,6%, influenciada diretamente pela recuperação dos papéis de quase todas as empresas do EBX e da Vale, e pelos sinais de manutenção de estímulos econômicos na Europa. As ações da OGX, petroleira de Eike, lideraram os ganhos do Ibovespa, principal índice do pregão, subindo 20,51%, para R$ 0,47. Isso porque o mercado recebeu bem a notícia da reestruturação do grupo, a partir da saída do empresário do comando da MPX, da área de energia. Mais adiante, ele deverá deixar também o controle das demais companhias.
A estratégia do grupo é vender ativos e até mesmo o controle da MPX e da mineradora MMX para pagar credores. Somente se o plano não vingar, as companhias poderão entrar em insolvência, e o outrora homem mais rico do Brasil ter seu patrimônio comprometido. “Até agora, o prejuízo é basicamente contábil”, avaliou o economista Jason Vieira. Por enquanto, a redução do “risco Eike” parte do esforço para recuperar a credibilidade da MPX, a melhor empresa do grupo, com ativos reais e receita garantida.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a saída de Eike da MPX e os ganhos obtidos ontem pelas ações de várias empresas do grupo mostram que, paradoxalmente, os investidores consideram que a ruptura do EBX pode ser a melhor forma de proteger os investimentos. “Eles têm que fazer alguma coisa, e rápido, para isolar as diferentes partes do grupo da reação contra Eike, de forma a criar um espaço para frear a deterioração e reestruturar o grupo”, disse Pires.
Ontem, no mais novo esforço para estancar as perdas, o conselho de administração da MPX decidiu cancelar uma operação de oferta pública de ações e promover um aumento de capital de R$ 800 milhões, a R$ 6,45 por ação. Cerca de R$ 400 milhões serão subscritos pela sócia alemã E.ON, que, em março, comprou 24,5% de participação na empresa, por R$ 1,5 bilhão. O resto poderá ser assumido pelo banco BTG Pactual, contratado para assessorar o grupo EBX a conduzir mudanças no organograma. Originalmente, a nova operação buscava levantar ao menos R$ 1,2 bilhão.
O conselho também aceitou a renúncia de Eike como membro e presidente do colegiado. Para completar, foi proposta a mudança no nome da empresa. “Recomendamos fazer uma nova marca até outubro”, disse Eduardo Karrer, diretor de Relações com Investidores. Eike e gestores têm 29% da empresa e a E.ON, 36%. O restante está no mercado acionário. Com o aumento de capital, o investidor alemão elevará sua parte para 38%, enquanto a do ex-presidente do conselho recuará para 24%. O BNDES já é um acionista de peso da companhia e analisa a possibilidade de participar desse aumento de capital. “Seguindo esse caminho, estamos acelerando o fluxo de receitas”, observou Johannes Teyssen, presidente da E.ON.
Outra boa notícia veio da OGX, cuja produção de óleo e gás natural atingiu média diária de 23 mil barris em junho, voltando às suas máximas históricas. A empresa anunciou, no começo da semana, que três poços que detêm na Bacia de Campos (RJ) são economicamente inviáveis.
Desconfiança
O tombo do empresário reflete a desconfiança do mercado, agravada recentemente pela informação de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teria dado ao EBX garantias de R$ 2,3 bilhões em empréstimos. Em nota divulgada na noite de quarta-feira, o banco estatal informou que as operações contratadas com o grupo somam R$ 10,4 bilhões, sem detalhar qual percentual foi desembolsado. A assessoria ressaltou que a liberação dos recursos se dá no ritmo da execução dos empreendimentos.
Diante da evaporação dos papéis do EBX, representantes do governo voltaram a dizer ontem que não há chance de um socorro federal ao grupo de Eike. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, afirmou que “ele não precisa disso”, pois “tem ativos muito valiosos”, sem dar mais detalhes. Na quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, reagiu à mesma indagação com um simples “não”, que repercutiu internacionalmente.
A MMX suspendeu a produção de minério de ferro na Unidade de Corumbá (MS) até o fim do ano. Em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a mineradora esclareceu que tem estoque para atender todos os contratos. Mas precisou fazer demissões. Quanto ao estaleiro OSX em São João da Barra (RJ), considerado um elefante branco, a expectativa é de prejuízos bilionários. A unidade planejada para ser o “maior estaleiro das Américas”, com investimento previsto de R$ 4,8 bilhões, está ociosa e, aparentemente, sem interessados.
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